O aumento da obesidade observado nos últimos anos tem assumido caráter epidêmico. Diversos estudos ressaltam sua etiologia multifatorial, com influências de fatores biológicos, psicológicos e sócio-econômicos (Oliveira et al., 2003). No Brasil, observa-se aumento da prevalência da obesidade em praticamente todos os estratos de idade e ainda pode-se constatar tendência de concentração entre indivíduos de classes sociais menos favorecidas (Monteiro et al., 2003).
Reconhece-se que a obesidade também é uma manifestação de má-nutrição, relacionada à co-morbidades decorrentes do excesso de gordura corporal. Atualmente, constitui-se em um dos mais graves problemas de saúde pública em todo o mundo, avançando de forma dramática entre crianças e adolescentes, podendo levar ao desenvolvimento de diversas patologias, como diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia e síndrome metabólica (Daniels et al., 2005). Além disso, indivíduos obesos, incluindo crianças e adolescentes, freqüentemente apresentam baixa auto-estima, afetando a performance escolar e relacionamentos, conduzindo a conseqüências psicológicas a longo prazo (Abrantes et al., 2003).
Os fatores que poderiam explicar essa tendência de aumento da obesidade parecem estar mais relacionados às mudanças no estilo de vida e aos hábitos alimentares (Oliveira et al., 2003). Atualmente é possível observar algumas mudanças no perfil nutricional da população, decorrentes de modificações na estrutura da dieta, o que tem sido denominado de “transição nutricional”. Pode-se observar que as mudanças convergem para uma dieta rica em gorduras (principalmente de origem animal), açúcar e alimentos refinados e reduzida em carboidratos complexos e fibras; além de declínio progressivo da atividade física (Monteiro et al., 2000).
O papel do ambiente familiar aparece de forma bastante marcante no contexto do excesso de peso. Alerta-se que um dos maiores riscos para a obesidade infantil é a obesidade dos pais, considerando-se tanto o estilo de vida quanto a carga genética. Estudos apontam que quando pai e mãe apresentam obesidade a chance da criança ser obesa é de 80%. Em contrapartida, quando nenhum dos pais é obeso a chance é reduzida a 7% (Traebert et al., 2004).
A alimentação a partir dos primeiros anos de vida assume caráter decisivo quanto ao possível desenvolvimento de doenças que poderão comprometer a saúde do indivíduo quando adulto, principalmente por saber-se que o processo aterosclerótico começa a desenvolver-se na infância, período em que as estrias gordurosas, precursoras das placas ateroscleróticas, começam a aparecer na camada íntima da aorta, por volta dos 3 anos de idade, podendo progredir significativamente na terceira e quarta décadas de vida (Romaldini et al., 2004).
Traebert et al. (2004) citam que o risco de uma criança obesa permanecer nesta condição na vida adulta é de 25%, aumentando para 80% quando o excesso de peso se instala durante a adolescência. Desta forma, pode-se inferir que medidas de educação nutricional se tornam cada vez mais decisivas diante dos números alarmantes de sobrepeso e obesidade verificados atualmente, especialmente entre crianças e adolescentes. Cabe ressaltar que o comportamento alimentar tem suas bases fixadas na infância, diretamente influenciado pela família, portanto, a freqüência com que os pais demonstram hábitos alimentares saudáveis influencia o comportamento alimentar dos filhos de maneira positiva e duradoura.
Fonte: Revista Nutrição em Pauta, edição setembro/outubro 2005
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